Me despedi de meu pais no aeroporto de Lisboa depois de um fim de semana viajando pelo Algarve em Portugal. Demos um abraço apertado logo após sair do café onde planejamos nosso próximo reencontro, naquele mesmo ano.
Eles seguiram viagem enquanto eu voltava para a casa. Mas só pude embarcar por isso: porque tinha uma casa na Itália. Era 08 de março de 2020 e as fronteiras para o país se fechavam para o resto do mundo naquele exato dia.
Assim seguiram, fechadas. Assim segui, trancada em casa. Assim seguimos, distantes.
No início não tínhamos pressa. Até agosto tudo se resolveria, pensávamos ingênuos. Não foi assim por aí também?
Passaram-se horas, dias, meses. As regras mudavam a cada minuto. As vezes você saía para dar a volta na quadra e pegar um ar, pra então descobrir que nem mais isso podia. Ou então você esquecia a máscara em casa e ao voltar, já nem era mais obrigação.
Da janela do quarto vi o tempo transcorrer sem pressa. A árvore em frente era como um relógio. Vi as folhas brotarem, secarem, caírem, voarem, renascerem.
Anos lendo e relendo novos decretos de viagem. Escrevendo para consulado, embaixada, amigos na mesma situação. Desejando que aquele abraço fosse mais demorado.
Dois anos parecem tão pouco diante de uma vida toda, mas em dois anos muita vida acontece. Engravidei. Pari. Larguei meu emprego. Mudei de país.
Virei mãe sem mãe do lado.
E as portas continuavam fechadas. Sempre fechadas. Abriam frestas para esperançar. Mas para nós, só restava esperar.
E então esperamos.
Até que eles tocaram a campainha da minha nova casa. Não tiveram tempo para largar as malas ou organizar as coisas. A gente tinha pressa por afeto. Me joguei em seus braços.
Um abraço longo. Um abraço cheio de sentimento misturado, guardado, aguardado. Um abraço que eu queria durasse para sempre.
Eles logo abriram as malas cheias de presentes para a nova neta que completava o primeiro ano de vida. O tanto de coisas que espalharam ao seu redor não era nada comparado ao amor que transbordava de seus olhos, gestos e sorrisos. Amor de vô e vó é amor em dobro.
Agradeci, em silêncio, a sorte de ainda os ter por perto. Aproveitei cada minuto ao seu lado. Dessa vez não fizemos planos. Mas fizemos questão de se demorar no nosso último abraço. Porque do amanhã a gente não sabe.