Cláudio
#17 Sobre ele mesmo, o Claudinho, companheiro de viagens mundo afora. Mas também sobre amizades e objetos afetivos (um tanto inusitados).
Seu nome era Cláudio.
Ao menos foi assim que decidimos chamá-lo. Chegara de surpresa no aniversário de Bea, acompanhado de uma convidada. Ela disse ter esbarrado com ele na rua por acaso e decidiu carregá-lo para a festa. Achamos a situação um tanto inusitada, mas o acolhemos como um velho conhecido, já que a mesa era grande o suficiente para acomodar mais uma pessoa.
Cláudio destoava dos demais, a começar pela idade. Tinha, no mínimo, o dobro de tempo comparado àqueles jovens de vinte e poucos anos. Não foram as rugas que revelaram tal aspecto— na verdade mal conseguíamos enxergar — mas a calvície que aumentava nas laterais de sua da testa.
Ao menos estava bem vestido. Era o único da mesa a trajar uma camisa. Veja bem, o aniversário era em uma hamburgueria, estávamos todos usando roupas casuais. Para se adequar, Cláudio abriu o primeiro botão de sua camisa branca deixando transparecer um par de pelos que saía do peito.
Demos de ombros para tal ousadia. Estávamos ocupados demais conversando em tom estridente à medida que virávamos mais um gole de cerveja, enquanto Cláudio apenas observava, calado e atento como uma coruja em plena madrugada. Seus olhos compenetrados seguiam quem quer que o olhasse de frente.
Estava nitidamente perdido. Na verdade, estava de fato perdido. Foi assim, jogado na calçada numa noite de sexta-feira que nossa amiga o encontrou. Tentou descobrir seu paradeiro, mas ninguém conhecia aquele homem. E Cláudio nada disse, seguiu tácito.
Supúnhamos que em breve iniciaria em um novo emprego. Ou então, começaria finalmente a dirigir. Ou ainda, viajaria pelo Brasil. Quem sabe até para o exterior. Mas restamos na infindável dúvida.
Antes de irmos embora, Bea decidiu eternizar aquela noite com um bilhetinho. Contou quantos eram os presentes na mesa e, para nossa grata surpresa, éramos oito. Oito pessoas, sem considerar Cláudio, pois Cláudio por si só também era oito. Bea, então, pegou as fotos 3x4 daquele homem desconhecido e escreveu em seu verso: Obrigada pela presença, migo Cláudio.
Desde então, Cláudio tem me acompanhado escondido na carteira. Já viajou para mais lugares do que eu imaginaria pisar um dia. Cuba, Israel, Bulgária e Laos, só para citar alguns. Com o passar dos anos ele tem envelhecido, tal qual todos daquela mesa. Na imagem agora gasta pelo tempo, mal dá para ver seus olhos castanhos. Por vezes até esqueço que ele está ali. Mas quando nos deparamos um com o outro abro um sorriso bobo ao recordar a noite em que nos conhecemos. A mesa farta de bons amigos, gargalhadas e distração. Pessoas que perduram apesar do tempo e da distância. Como uma simples foto 3x4.
Svensk Vår
(Primavera sueca)
Havia guardado meu par de botas, o gorro e as luvas e já ousava sair apenas com uma jaqueta. O sol brilhava e aquecia, os termômetros marcavam mais de 10°C por algumas horas do dia e as primeiras flores apareciam pelo caminho.
Assim foi nossa semana passada: aproveitar cada segundo da primavera sueca que, pelo visto, dura uma semana. Voltamos a nossa programação normal de neve por aqui 😅
Seus textos são uma alegria sempre! Obrigada!
Munike! Mas quem é Cláudio? Hahahaha delícia de texto ❤️