Diário de viagens: um apanhado de coisas
#05 massinhas e bois e fronteiras e memórias.
— O titio fala português de Portugal? — ela perguntou ao ouvir o atendente do balcão.
— Sim, isso mesmo. E você, fala que português?
— Português da Suécia.
Cruzamos fronteiras desde que V. tem nove meses. Eu, ela, a mochila e o carrinho.
Hoje a fizemos de trem: Bélgica - Holanda.
Este é o 12° país que nos aventuramos. Agora em dose tripla — eu, V. e o “bbzim”. E a mochila, e o carrinho e sua malinha com coisas essenciais como lego e massinha.
Subimos o Atomium pra ver Bruxelas de cima. Bonita a vista.
Mas o ventilador que refrescava os visitantes que por lá passavam era muito mais legal.
Você sabe, falando na frente dele faz aquela voz de robô.
Experiência não inclusa no ingresso, apenas para aqueles que olham para além das janelas de vidro.
Cruzamos fronteiras desde que V. tem nove meses porque, antes disso, eu não podia cruzar nem a rua de casa.
Uma gravidez fora da pandemia tem lá suas vantagens. E em outro país de novo. Mas isso é assunto pra outro dia.
— Filha, sabia que isso é uma loja de cerveja? E quem é que gosta de cerveja?
— O vovô maluco!! Então amanhã a gente pode passar aqui e comprar pra ele um...ELEFANTE!
Amanhã encontraremos o vovô maluco. Ontem passamos o dia com a amiga Bete. Antes disso, alguns dias com a bisa no calor de Lisboa.
Mochila, carrinho, malinha, bebê em formação, criança que faz oitocentosevinte perguntas por minuto.
Ver ela andar de mãos dadas com a bisa, brincar com a amiga que a conhece desde bebê, correr pros braços do vovô. Criar memórias afetivas.
É por isso que viajo.
Aparentemente V. é a única que analisa atentamente o cartão de instruções para emergência durante o voo. Desde antes de aprender a falar.
Agora me explica: “aqui, mãe, se o avião pousa na grama, a gente tem que sair correndo caso tenham bois. Sabe, eles são bem pesados.”
Avistou o touro de wall street em frente a bolsa de valores de Amsterdam.
Subiu, fez carinho, passeou “só de brincadeirinha”, dançou, abraçou e o protegeu de wargs1.
Turistas desistiram de bater foto. A gente viaja sem pressa.
Enquanto isso, pessoas saíam do prédio a frente com seus crachás, camisas e calças de alfaiataria.
Eu me pergunto se algum deles para pra dançar com o touro.
Parou para colher flores de vasos em uma das avenidas mais movimentadas da capital.
— Muitas, muuuitaaas flores coloridas para fazer meu jardim de arcoíris.
Agora o quarto cápsula do hotel conta com uma gaveta-jardim.
Colei a massinha no espelho deste mesmo quarto. Foi o único modo de tampar a luz forte que vinha de um botão e iluminava todo o mini-espaço.
Massinha é item essencial de viagem.
Nos livros de J. R. R. Tolkien sobre a Terra-média, os wargs são uma raça malévola semelhante a lobos. O Hobbit é o livro preferido de Valentina, segundo a própria.
Do livro: De que tamanho é o mundo?, de Britta Teckentrup.
O texto acima pode conter erros gramaticais. Já passou da meia noite. E meu português já não lembro da onde é.
Valentina experimentando ser do mundo!!! e Viva o Vovô maluco que começou a aventura!!!
Que delícia de texto, imagens, tudo! Já quero ler mais <3