— E aí, já acabou a prova?
— Não, ainda falta o escrito.
O escrito.
Pensei “the writing”, falei “o escrito”. A prova não era de inglês. Era de sueco.
Tenho focado minhas noites, depois que a criança dorme, em estudar a língua dos vikings. Para os momentos em que minha filha diz “A banana tá na geladeira? Mas mãe, na geladeira ela vai ficar…brun. Puf, não sei dizer em português, mãe!”.
Marrom. A garota de três anos quis dizer marrom. É o mesmo nível do meu sueco, três anos, com a diferença de que eu tenho trinta e quatro. Enfrentamos o mesmo dilema com o português. Tem palavras que eu também esqueço.
— Quero só ver quando o novo chegado chegar.
Pensei “il nuovo arrivato”, falei “o novo chegado”, me referindo ao futuro integrante da família que, ao que tudo indica, vai nascer mais fluente em português do que eu.
Que ultimamente sou fluente em nada, mas me viro em muitas línguas. Desse jeito. Chegando ao fundo do poço. “O novo chegado” realmente selou o último resquício de dignidade que eu tinha com a língua portuguesa.
Dignidade.
Demorei uns minutos pra lembrar dessa palavra.
— Jesus Christ! — exclamei.
— Por que você falou Jesus Christ? — ela perguntou.
— É quando a pessoa tá em desespero. — ele respondeu.
— Não é DJISISpero, papai. É DJISISCRAIST!
Que gostoso te ler. Também tenho uma pequena V. por aqui. Ela ainda não fala mas quando falar vai precisar bailar entre português inglês e polonês. Ao te ler fiquei pensando nesse futuro não tão distante ❤️
Fantastico teu texto... escreva muito... qdo tiver livro, recomenda para nos deliciarmos!!!