“ Seu filho dorme bem? ”
Toda vez que uma mãe escuta essa simples pergunta, eu juro pra você, o coração dela dispara mais rápido que um corredor queniano. Não à toa, ela olha ao redor antes de dar qualquer resposta, só para ter certeza que a dita cuja não está escondida em algum canto próximo, pronta para dar o bote.
Mas não tem jeito. Ao abrir a boca, a maldita aparece à sua frente num salto súbito, gargalhando alto, assim traçando o destino daquela pobre mãe: essa noite o bebê não vai dormir nem com reza brava.
A Lei de Murphy Materna — Lady Murphy* para os íntimos — costuma ser traiçoeira e acomete seis a cada cinco mães. Isso mesmo, você não leu errado.
Ao contrário da Lei de Murphy, imprevisível, a Lady ataca em momentos bem específicos: quando a mãe está sozinha com a cria ou quando ela é questionada sobre a performance de seu bebê.
Basta o pai sair pra comprar pão que ela aproveita para entrar na sua casa sem pedir licença e tudo (tu-do!) acontece.
O bebê solta um cocô explosivo, daqueles que suja até a parede. A mãe corre de um lado pro outro entre o quarto e o banheiro tentando achar a solução mais fácil para limpar a criança que segue se mexendo incontrolavelmente cagando o corpo inteiro. Vai pro chuveiro. A porta do box resolve desmontar. Tenta consertar com os pés. O chinelo arrebenta. Melhor sair antes que o chuveiro resolva cair na cabeça de ambos. Vai para a pia. Espera a água esquentar enquanto equilibra um bebê cagado e visivelmente com frio. Toma um banho de xixi para aprender a ser mais ágil da próxima vez.
Com o filho devidamente limpo — e só o filho, diga-se de passagem — a mãe dá passos sutis e olha em cada cômodo a procura da meliante. O bebê começa a chorar. Não qualquer choro. Um choro novo. Indecifrável. A mãe tenta consolá-lo sem sucesso. Chocalho. Malabarismo. Dancinha vergonhosa. Canto desafinado. Nada parece funcionar. O bebê, sentindo pena da mãe, dá uma trégua.
A mãe respira. Senta na poltrona para repousar tendo a certeza de que Lady foi embora de vez. Dá o seio. Bebê aceita. Contempla pela janela o dia ensolarado e se orgulha de ter conseguido, enfim, lavar as roupas. Uma nuvem preta desponta no céu e uma chuva repentina cai sob o varal. Justo na hora da amamentação. É claro. É obvio!
Se pergunta se o marido foi comprar pão ou foi fazer o pão.
Rende-se ao seu destino e pega o celular para se distrair. Mensagem da amiga. “O bebê está dormindo bem?”. “Passaram as cólicas?” A mãe responde monossilábica. “Tá”. “É”. Ela até queria dizer que na noite anterior o bebê dormira por oito horas seguidas ou que já faz uma semana que ele não sente dores, mas toda mãe sabe as consequências de dar uma resposta detalhada. A Lady intercepta até mensagem por sinal de fumaça (por isso não julgue uma mãe monossilábica, ela está apenas tentando sobreviver a mais um dia).
O pai volta da padaria. Vê o bebê dormindo sereno nos braços da mãe. Dia tranquilo hoje né — ele ousa afirmar. Por detrás de seus ombros, ela vê Lady Murphy rindo da sua cara.
“É…”