São 4 da tarde e o sol brilha nas ruas de Oslo, Noruega. Enquanto isso, escrevo de um quarto escuro, na tela do celular no modo noturno, com o barulho da chuva saindo pelas minúsculas caixas de som. É assim que Valentina, minha filha de um ano e três meses, costuma dormir. É assim que eu, depois que pari, costumo escrever.
Estamos em viagem, só eu e ela, e seu miúdo corpo precisa de pausas ao longo do dia. Assim também acontece com certos textos. As vezes não por opção. Parei de escrever aqui, mas não deixei de escrever. Na verdade, quem gosta de escrever nunca para. A escrita nasce muito antes da caneta tocar o papel, dos dedos tocarem as teclas.
Perdi as contas dos rascunhos que iniciei para este espaço (e que logo serão retomados). Pior mesmo são todos os textos que brotaram na cabeça mas não tiveram a sorte de serem salvos a tempo. E quem escreve sabe, se a gente não anota a ideia, ela se vai feito balão de gás hélio pelo ar.
Tudo ao nosso redor conta uma história. Os brinquedos jogados na sala falam sobre os dias corridos. Os cadernos em cima da mesa contam sobre adaptação. As correspondências penduradas na porta da geladeira relatam sobre mudança.
Observe. É quase uma maldição. As memórias que surgem ao olhar qualquer coisa que esteja ao seu redor. Tanta história pra contar, pouco tempo para eterniza-las. Mas, nem por isso, elas deixam de existir.
No momento sigo escrevendo por meio das vivências: em conversas, viagens, caminhadas, observações e memórias.
Em breve volto com textos inéditos (aguardem muitas aventuras de uma mãe viajando com um bebê). E para provar que ainda escrevo no sentido literal, aqui vai uma poesia que saiu noite dessas tomando chá e olhando a sala bagunçada:
Manifestações de miudezas
Que gosto tem?
Dedão do pé
Chaves de casa
Lápis aquarela
Tampa de garrafa.
Papel, caneta
Pedra, areia.
Que toque tem?
Barba do pai
Pelo do cachorro
Boca da mãe
Galhos da floresta.
Cabelo, água
Balão, terra.
Que barulho faz?
A voz dentro da caixa de papelão
Em frente ao ventilador
Roçar as unhas na poltrona
Virar página de livro.
Aplausos, teclado
Berro, sacola.
Que graça tem?
O reflexo no espelho
Voar sobre joelhos
Peidar com a boca
Dançar com as mãos.
Espirro, careta
Rolar, tchau-tchau.
Pra que serve?
Creme de abóbora
Faz bem pro cabelo.
Meia suja
Esquenta as mãos.
Massa de canudinho
Um belo anel.
Descobre,
explora,
aprende.
Sem medos,
modos,
pudor.
Leve,
Livre,
Valente.
Sem pressa
Com coragem.
Vive.
Tava com saudade desse email! Momento alívio do dia check!
Muito bom ler isso em uma segunda chuvosa. Obrigado Nike.