Bananas sem B vira Ananas, que vira Abacaxi que vira abaxaki quando gente pequena ainda está aprendendo a falar e troca as sílabas de lugar.
Embaralhando o Bleu se forma Blue que também é Blu, uma atrapalhação só pra chamar o céu de azul, que em muitos dias nem azul é.
Pescoço no francês é cou, mas se diz cú, que no português é palavrão, mesmo sendo monossilábico.
E a gente que é gente grande disfarça o riso perante gente pequena que ainda está aprendendo a falar e troca as línguas de lugar.
Tack no inglês é um jeito de costurar, no milanês de se expressar, no sueco é obrigada e no português não quer dizer nada.
Tatata vira batata, barata, patata, pirata.
O balbuciado que vira fala instintivamente sem nem saber ler, sem nem saber escrever, sem nem saber o que é gramática, grafia, grafema.
Tem letra que dá até pra brincar. Colocando perninha em cima do E vira É, um jeito de ser. Colocando bolinha em cima do A vira Å, um som que em breve vais me ensinar.
Colocando cobrinha em cima de A, vira Ã, aquele som que gringo não consegue pronunciar. Pão vira pau, mão vira mau, coração, Curaçau. Mas pra você vem tudo de forma tão natural.
Mirabolante, pernilongo, paçoca, chulé.
Mamute, bulhufas, eita, vish, olé.
Espelunca, serelepe, batuta.
Estapafúrdio, gambiarra, biruta.
Na língua portuguesa o que não falta é palavra maluca.
Minha singela herança pra você, procê, pra ti, pra tu. Garota plural, pluricultural, plurilinguística.
Hoje você falou mamãe pela primeira vez.
Hoje foi a primeira vez que você falou português.
(13/11/2021 - 8 meses e 26 dias de V.)