Eu não estava lá.
Quando minhas sobrinhas nasceram. Quando minha mãe fez aniversário. Quando meu pai pegou Covid. Quando meu avô passou dias no hospital. Eu não estava lá. No natal em família. No ano novo com os amigos. No espetáculo de dança da minha melhor amiga. Eu não estava lá. Fisicamente.
A tecnologia diminui distâncias, sim. A gente se vê por uma pequenina tela de celular e por um instante me faço presente nesses momentos. Mas é isso. Um instante. Os poucos minutos onde tiramos um tempo para nos falarmos. Ao desligar o telefone, eu volto a não estar lá.
Em janeiro deste ano, minha bisavó faleceu. De repente. Meu coração apertou. Não pelo fato do inesperado — a gente sabe que depois dos 90 tudo pode acontecer — mas porque faltava apenas um mês para minha filha nascer. Era a primeira tataraneta que carregava suas origens novamente. Nascida na Itália, traria um pouco do gosto de casa de volta para ela.
E, de novo, eu não estava lá. Vivi o luto do outro lado do Atlântico, do meu jeito. Desaguei ao escrever. E, sem que soubesse, o texto foi lido no dia de seu adeus. Assim me fiz presente em sua partida. Não por um instante. Por completo. Através de uma coisa tão simples: a palavra.
Ela, feita apenas de um juntar de letras e sílabas, tem o poder de tocar quem lê, quem ouve. Ela, que secretamente vive em diários, serve de cura para quem escreve. Ela, que quando ganha mundo, faz morada em gente que vive longe, gente que vive do lado. Conecta.
Dia 03 de julho meus avós comemoraram cinquenta anos de casados. Um marco na vida de qualquer casal. A família organizou uma celebração íntima para não deixar a data passar em branco. Cada um contribuiu com uma tarefa. Eu, a única que mora longe, não podia pedir flores ou cuidar da comida. Me restou a escrita. Uma homenagem que encantou a todos. E assim me fiz presente.
Dessa vez, eu estava lá.
📚 Escrita como terapia
Ana Cláudia Quintana, médica especialista em cuidados paliativos, atende pessoas com doenças terminais e uma de suas prescrições é justamente a escrita. No seu livro A morte é um dia que vale a pena viver, Ana descreve como é estar constantemente ao lado de pessoas nos seus últimos dias de vida, dando suporte, acolhimento e as tratando como são — pessoas, enfim — não simples pacientes. O livro nos leva a pensar na forma como estamos vivendo e a olhar para a morte como parte da vida, afinal, um dia todos chegaremos lá, né?
✒Clube da Escrita
A escritora Ana Holanda (olha aí, outra Ana!), ex editora chefe da revista Vida Simples, criou um clube de escrita para quem gosta de escrever e quer se aperfeiçoar mais no assunto. A cada mês são trabalhados temas diversos, com desafios semanais, encontros com profissionais (nao só da area da escrita) e encontro para análise de textos. Você pode ler o que produzimos nessa página.
Além disso, Ana sempre disponibiliza conteúdos sobre escrita afetuosa - termo que ela criou para seu tipo de escrita - de graça na internet. Dá uma olhada no seu perfil ;)
Ah, e se você tem interesse pelo assunto, o livro Como se encontrar na escrita, é de uma leitura muito gostosa! Ana nos guia nesse mundo de forma leve e íntima, como se estivesse conversando diretamente conosco. Bem longe de ser um simples manual sobre escrita.
📖Memórias e afeto
Eu não me faço presente apenas através da escrita. Tem datas especiais em que adoro surpreender quem amo, mesmo longe. Um jeito carinhoso de estar pertinho. E a Manu sempre me ajuda nisso. Ela é a pessoa por trás da Monamu Atêlier. A marca começou pequenina, fazendo cadernos e agendas, e hoje produz álbuns, bordados e até caixa de memórias com fotos, tudo de forma manual. Das coisas que a gente sente afeto em cada detalhe.
🎬 A sociedade literária e a torta de casca de batata
Pelo título, parece filme cult-lado-B, mas juro pra você, é apenas um romance inglês sobre uma escritora que decide visitar um clube do livro formado por amigos para se livrar de punições em plena Segunda Guerra Mundial. Um retrato de como a escrita e a leitura atravessam fronteiras, deixam marcas e criam elos. Disponível no Netflix!
Uma newsletter é um espaço bem interessante de compartilhamento e de conexão. Bom poder de acompanhar por aqui tb.